Um dia desses estava em uma mesa num café com alguns amigos e outros conhecidos. Em determinado momento da conversa sem percebermos estavamos discutindo religião e fundamentalismo religioso. No dia seguinte encontrei novamente um dos amigos que estava participando da discussão. Este amigo, por acaso lida no mercadode imóveis comprando e vendendo terrenos, e é muito religioso, participando de encontros de orações e cultos evangélicos. Ele então me disse: - Não gostei da conversa de ontem, não me senti bem. Não vou mais discutir este assunto. Ou seja, ele não admite sequer discutir religião. Qual a razão disto não sei, ou talvez saiba, mas perderia muito tempo agora tentando responder a isto. O que quero chamar a atenção é a diferença de atitude ou resposta desta pessoa em relação aos dois aspectos mais importantes da sua vida, o trabalho e a religião. Se não vejamos.
Suponhemos que ele por acaso encontrasse com alguém pouco conhecido, em uma mesa de café, e esta pessoa lhe oferecesse um grande negócio. Digamos, a compra de um terreno plano, firme, em área de expansão, viável a construção, por um preço a um décimo do mercado. Mas que este negócio deveria ser fechado ali naquela hora, senão não haveria negócio. Se este meu amigo sacar o talão de cheque e pagar ao sujeito o valor pedido, eu chamaria isto de fé. Mas conheço este amigo razoavelmente bem para afirmar com certeza que ele não faria isto. Certamente antes de pagar qualquer quantia ao vendedor, ele solicitaria a apresentação de todos os documentos de propriedade do terreno, certidões negativas de cartórios, consultas de viabilidade de construção e iria visitar o terreno para ver com os próprios olhos o que estaria comprando. Isto é razão.
Vejam só, no entanto não é assim que ele age em relação a crença religiosa. Ele acredita e não quer nem ouvir falar. Ou seja, ele esta pagando o terreno sem vê-lo, ele tem fé no vendedor.
Bom, e o que eu tenho a ver com isto? Devo dizer que a resposta “nada” me passou pela cabeça, mas aí eu pensei na história acima. Vamos supor que eu estivesse ao lado deste amigo na ocasião, ouvisse a proposta, e soubesse que o negócio era um embuste, que o sujeito era um notório mal caráter, e que meu amigo seria enganado. Deveria eu ficar calado? Me conformar que eu não teria nada a ver com isto? Ou eu deveria avisá-lo que ele não deveria confiar naquele sujeito porque tudo o que ele dizia eram mentiras?
Por isso, quando o assunto é crença religiosa, eu entendo que aqueles como eu, que já acordaram da ilusão religiosa e de seus malefícios, têm a obrigação moral de se manifestarem. Obrigação, como no exemplo acima, de avisar a um amigo que ele está sendo enganado. Afinal devemos ou não lembrá-los que a vida e a natureza são tão bonitas que não há necessidade de inventarmos mundos paralelos onde seres pairam sobre nós e nos vigiam.
Este tipo de dicotomia certamente não acontece só com o meu amigo. É a troca da razão pela fé. E o que é a fé senão crer em algo sem comprovação. As religiões sabem disso, por isso proclamam a fé, pois a fé não se discute. A fé é seu principal dogma. E porque? Porque elas e suas crenças não passariam pelo crivo da razão objetiva. Às religiões não se permitem dúvidas.
- E realmente o que se pode dizer de algo que não se discute? Não há nem o que discutir.
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