Um dos argumentos mais usados para minimizar a importância de Lula no desempenho da economia brasileira é o de que o governo que está terminando apenas deu continuidade às políticas do governo anterior, tidas como boas e acertadas. Esta sensação de continuidade talvez exista na mente de alguns porque Lula não fez nenhum pacote, não fez rupturas, não criou planos com nomes de moedas, com nome de ministros, com nome de estações climáticas, etc. Por isso, este argumento é de uma enorme obviedade e de um irrelevância não menos chamativa.
Obviedade porque evidentemente não é possível fazer desaparecer o governo que o precedeu, da mesma forma que este não pode eliminar o governo que o precedeu, e assim por diante. Assim sendo, todo governo herda queira ou não coisas boas e ruins do anterior. E é irrelevante porque dada a tamanha diferença de resultados nos indicadores econômicos e principalmente nos sociais, que torna-se inócua qualquer apelação a este argumento. Por isso nem é necessário trazer aqui números e estatísticas que provem o que está acima.
- É como se um time ganhasse uma partida por 5 x 0 e o time derrotado reclamasse que o primeiro gol sofrido tivesse ocorrido em impedimento.
Da mesma forma, outra obviedade também é usada, a de que sempre governos posteriores vão ter desempenhos estatisticamente melhores pela simples razão do aumento populacional e o concomitante aumento da produção. Mesmo que seja óbvio, as estatísticas são tão humilhantemente superiores que tornam sem sentido encontrar motivos na administração anterior.
Dito isto, quero dar uma guinada neste ponto para ir onde está de modo claro a grande diferença entre os dois governos: a opção preferencial pelo pobre. Transferindo de forma consistente renda para as categorias mais pobres da população, o governo atual se descolou do anterior e deu um salto cujos resultados serão sentidos muito adiante. Seja através do bolsa-família, dos aumentos suscessivos do salário-mínimo, sempre acima da inflação, e das transferências inéditas para aposentados e pensionistas que agora representam 15% do PIB.
Mas há diferenças mais importantes, que evidenciam a preferência pelo pobre e pelo nosso povo. Recentemente, em 7 de maio de 2010, depois de ter reeguido a indústria naval brasileira, Lula foi a um estaleiro em Pernambuco para lançar ao mar o primeiro navio petroleiro construído no Brasil depois de décadas. Com sutis, mas profundas diferenças. Ao invés do navio receber o nome de algum almirante ou político, recebeu o nome de João Cândido, brasileiro, marinheiro, negro, filho de escravos e herói da revolta da Chibata, na luta contra a escravatura. E mais, ao invés de alguma primeira-dama ou alguma socialite, quem foi convidada para batizar o navio foi Monica Roberta de França, brasileira, negra, soldadora, operária do estaleiro, ex-empregada doméstica e desempregada a anos, que agora tinha trabalho. O país está trocando seus heróis. E o próximo navio irá se chamar Celso Furtado.
Por estas pequenas diferenças, que ficam enormes quando se olha do ponto de vista do brasileiro pobre, do brasileiro negro, que apelar para o reducionismo e a simplificação da inexequível continuidade não encontra respaldo.
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Um comentário:
observações sempre pautadas por clareza e sem o ranço elitista que acredita que o poder nos compete por indicação divina.
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