domingo, 23 de novembro de 2008

Glória a todas as lutas inglórias


Este post começa com estes versos da música “O almirante negro” de João Bosco e Aldir Blanc.

Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais

Estava num bar com alguns amigos quando o assunto se voltou para um e-mail que todos na mesa haviam recebido contendo uma imagem escaneada da ficha da Ministra Dilma Rousseff, não se sabe de que orgão da repressão, com uma relação das atividades atribuídas a ela durante o período da repressão, quando um dos presentes exclamou: - Bandidaça!

Aquilo me fez pensar como as pessoas são facilmente conduzidas a pensar segundo o interesse e a vontade do grupo dominante, que nesta batalha foi o vencedor. Esquecem-se facilmente de coisas muito importantes, determinantes até, e se fixam em pormenores que alteram a interpretação histórica do momento vivido. Ou seja, assaltar um banco seria mais importante para classificar uma pessoa, que lutar pela liberdade dos brasileiros, naquele momento sujeitos a uma ditadura militar brutal e sanguinária.

Esquecem-se que estes jovens, estudantes na faixa dos 20 e poucos anos, filhos de algum pai e alguma mãe desesperados , homens e mulheres, assaltaram bancos (estes mesmos que todos criticamos pelas altas taxas, juros, lucros exorbitantes, etc) para angariar fundos em sua luta para acabar com a ditadura militar.

Esquecem-se que o ex-governador paulista Adhemar de Barros tinha em seu cofre na casa da amante a quantia, muito provavelmente oriunda da corrupção, de 2,5 milhões de dólares, que equivalem hoje a aproximadamente 25 milhões de dólares. Quantia que deixa os corruptos contemporâneos com cara de ingênuos. Mas o importante é o fato menor, ou seja, assaltaram a casa de uma mulher no bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro e levaram o cofre inteiro.

Mas então, seria esta pessoa um bandido? Poderíamos compará-la a Ronald Biggs, a João Acácio Pereira da Costa, o "Bandido da Luz Vermelha, a Fernandinho Beira-Mar, a Elias Maluco, a Lucio Flávio, a Georgina de Freitas, a Law King Chong, a Hildebrando Pascoal, a José Carlos dos Reis Encina, ao Papagaio, ao Nenem da Costeira, etc.?

Onde poderíamos colocar esta pessoa? Então seria ela um terrorista como esta escrito na ficha. Mas isto depende do ponto de vista. Considerando terrorismo como qualquer ação violenta para atacar a ordem estabelecida ou um governo estabelecido, resta saber se este governo contra o qual o “terrorista” luta é legítimo ou não. Aqui entendo por legítimo um governo lá colocado pelo seu povo. Então se o “terrorista” luta para desalojar um governo ilegítimo, sob este ponto de vista não pode ser considerado como tal.

Se não vejamos:

Matias de Albuquerque era um terrorista?
Martim Soares Moreno era um terrorista?
Felipe Camarão era um terrorista?
Henrique Dias era um terrorista?
Rebelinho era um terrorista?
André Vidal de Negreiros era um terrorista?
João Fernandes Vieira era um terrorista?
Marinheiro João Cândido Felisberto era um terrorista?
Anita Garibaldi era uma terrorista?
Giuseppe Garibaldi era um terrorista?
Zumbi dos Palmares era um terrorista?
Plácido de Castro era um terrorista?
Thomas Jefferson era um terrorista?
George Washington era um terrorista?
Emiliano Zapata era um terrorista?
Pancho Villa era um terrorista?

Nesta pequena lista, incompleta certamente, temos pessoas que hoje são heróis mas que no momento histórico em que viveram eram os terroristas do momento. Usavam táticas de guerrilha, faziam ataques furtivos, roubavam mantimentos e equipamentos dos usurpadores que combatiam. Nesta lista temos brasileiros, homens e mulheres, brancos, índios e negros que lutaram contra as invasões estrangeiras, lutaram contra a escravidão, lutaram pela liberdade. E americanos, mexicanos, italianos que também lutaram pela liberdade de seus povos. Apenas alguns exemplos.

Isto é bem diferente do que se chama de terrorismo de estado, quando as forças públicas regulares, em nome do governo, praticam massivamente assassinatos e torturas, censuram os meios de comunicação, proibem manifestações públicas, eliminam as liberdades democráticas, executam prisões arbitrárias, etc., como no Brasil da ditadura militar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro,não costumo fazer comentários,não sou dos computadores,mas tenho que te dar os parabéns pelo post.

Brandão

filo disse...

Filó, você arrasou, este post está magnífico. Tudo o que penso você transcreveu, seria "transmimento de pensação".Olha primo, vivi estes momentos difíceis(tenho 64 anos) e acho que o autor deste e-mail ou é milico ressentido ou general de pijama.Rs. Abração